Para medir esses fenômenos, Everitt e sua equipe, em Stanford, equiparam a Sonda Gravitacional B com um telescópio especial conectado a diversos giroscópios. Apontaram o telescópio para uma estrela-guia, a IM Pegasi, e acionaram os giroscópios de forma a que seus eixos também tomassem por referência a estrela-guia. Caso Einstein tivesse razão, os giroscópios apresentariam ligeiro desvio ao longo do tempo, acompanhando a distorção do contínuo espaço-temporal.
A equipe de Stanford recolheu o equivalente a 11,5 meses de dados das transmissões da Sonda Gravitacional B, mas pequenos desvios imprevistos nos giroscópios prejudicaram os resultados. Everitt teve de pedir tempo e verbas adicionais à Nasa, para que sua equipe de 11 pessoas pudesse descobrir como limpar os dados.
Quatro trabalhosos anos mais tarde, a equipe confirmou o efeito geodésico e está próxima a um resultado confiável quanto ao arrasto de moldura. Mesmo assim, a Nasa se viu forçada a suspender o financiamento do trabalho, em maio. A catástrofe sofrida na reta final poderia ter sido o final do projeto, mas Everitt, tão conhecido pela tenacidade quanto pelo charme, já havia levado a Sonda Gravitacional B a sobreviver a diversas ameaças severas ao longo dos anos.
Para manter o projeto ativo, em 2008, ele já havia obtido uma contribuição de US$ 500 mil junto a Richard Fairbank, fundador e presidente-executivo da Capital One Financial e filho do antigo mentor do físico, William Fairbank, professor de física em Stanford. Fairbank estipulou que só forneceria a verba caso a Nasa e Stanford contribuíssem com quantias iguais, o que ambas fizeram.
Mas pela metade de 2008, o US$ 1,5 milhão estava acabando. Everitt então recorreu a Turki al-Saud, vice-presidente dos institutos de pesquisa da Cidade Rei Abdulaziz da Ciência e Tecnologia, na Arábia Saudita, e membro da família real do país. Al-Saud, que tem um doutorado em aeronáutica e astronáutica por Stanford, obteve uma doação de US$ 2,7 milhões. O trabalho continua.
"Nunca imaginei que viria a conhecer Riad", disse Everitt. "Precisaremos de mais dinheiro, mas aqueles US$ 2,7 milhões realmente ajudaram. Agora, temos um fim definido à vista". A experiência da Sonda Gravitacional B foi concebida nos primeiros anos da era espacial, por Leonard Schiff, físico de Stanford, e George Pugh, do Departamento da Defesa. Schiff levou William Fairbank para o projeto em 1959, e em 1962 Fairbank convenceu o britânico Everitt a fazer uma visita. Everitt, 74, dirige o programa Sonda Gravitacional B desde então.
Embora a experiência em si seja relativamente simples, as demandas de engenharia não tinham precedentes. A distorção teórica do contínuo espaço-temporal relacionada ao efeito geodésico era minúscula e a do arrasto de moldura ainda menor.
Para realizar medições da precisão requerida, e tendo por objeto um corpo celeste grande como a Terra, os giroscópios da espaçonave precisavam ser virtualmente isentos de fricção, de influências de calor, campos magnéticos e de movimentos imprevisíveis. O ambiente intocado do espaço tornava essa tentativa possível.
Mas o sucesso não estava garantido. Tecnologias exóticas, muitas vezes sem precedentes, seriam necessárias. Os quatro giroscópios de quartzo fundido, do tamanho de bolas de ping-pong, revestidos com o metal nióbio, são os objetos esféricos mais perfeitos já criados pelo homem. Uma "bolsa" de chumbo do tamanho de um caixão protege os giroscópios contra o campo magnético da Terra.
Um grande recipiente em forma de garrafa térmica, conhecido como dewar, abriga 238 litros de hélio líquido, refrigerado para apenas dois graus acima do zero absoluto. O hélio mantém o revestimento de nióbio em temperatura supercondutora, de modo que o metal possa rastrear os desvios no eixo de giro dos giroscópios.
Quando a espaçonave de 6,5 metros e três toneladas foi lançada, em 20 de abril de 2004, a Sonda Gravitacional B se havia tornado uma ferramenta muito dispendiosa, criada para provar algo que muitos cientistas, ao longo dos anos, vieram a aceitar como já provado pela física teórica e por algumas experiências anteriores.
Mas esse argumento não abala Everitt. "Estamos realizando uma medição com um objeto maciço, e isso é válido", diz Everitt. "É isso que a teoria da relatividade geral diz, e isso que tentamos provar na experiência". Mas a missão não transcorreu de acordo com os planos. O revestimento de nióbio nos giroscópios e em suas bases era ligeiramente irregular, o que causou pequenos torques elétricos imprevisíveis que geravam desvios nos giroscópios.
A missão foi encerrada em 2005, mas desde então a equipe de Stanford vem mapeando as anomalias do nióbio em cada giroscópio, determinando os padrões de distorção e separando ruído e dados. A Nasa havia reservado verbas para um ano de trabalho de análise de dados posterior ao voo, mas Everitt precisava de muito mais tempo, e a Nasa bancou o projeto até 2007. O fim parecia ter chegado, então.
Richard Fairbank, a quem Everitt conhece desde a infância, não aceitou a conclusão. "Há quase 50 anos, meu pai conversou comigo sobre a integridade de uma busca audaciosa, e sobre a necessidade de não desistir", afirmou Fairbank. "Eu sentia que o projeto estava perto demais do objetivo final para que o deixássemos inacabado".
O dinheiro que ele ofereceu serviu para levar o trabalho até 2008, mas em maio o programa da Sonda Gravitacional B passou por um processo de revisão de alto nível conduzido pela Nasa, sob o qual um comitê de cientistas independentes avalia os programas que a agência tem em curso a fim de determinar as prioridades de financiamento. "Terminamos em último lugar, entre todos os programas avaliados", declarou Everitt.
No entanto, no mesmo mês, Turki al-Saud visitou Stanford e teve uma breve conversa com Everitt. A Arábia Saudita, que já construiu 12 pequenos satélites, "estava interessada em formar parcerias" para futuras missões espaciais, disse Saud em entrevista telefônica, e veio a assinar acordos nesse sentido com a Nasa e com Stanford, depois daquela reunião. Everitt se reuniu com Saud em Londres, em julho, e a Sonda Gravitacional B recebeu mais US$ 2,7 milhões.
A equipe continuou trabalhando. Em agosto, alguns alunos de pós-graduação envolvidos no projeto obtiveram um avanço considerável ao conseguir enquadrar o desvio quanto ao arrasto de moldura a um número que fica a 15% de distância do resultado esperado.
Everitt espera reduzir essa distância a 3% até a metade de 2010. O efeito geodésico no momento está a 1% do resultado previsto, e a disparidade deve se reduzir ainda mais. "Eles realizaram a parte espacial da missão, e pareciam ter encontrado um problema que muita gente considerava intransponível", disse Michael Salomon, diretor científico do Programa de Física do Cosmos da Nasa e partidário vigoroso do projeto apesar da decisão adversa do comitê de revisão.
"E aí conseguem esse resultado. É francamente espetacular, e quando o trabalho estiver concluído convocaremos a imprensa para um anúncio formal dos resultados".
http://noticias.terra.com.br/ciencia/interna/0,,OI3592509-EI238,00-Sonda+que+comprova+teoria+de+Einstein+tem+apoio+internacional.html
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