sábado, 28 de fevereiro de 2009

Ruído misterioso no Cosmos- II

Desenho do Arcade:
vôo resfriado no hélio líquido.




A divulgação do provável achado ocorreu no início de janeiro durante a reunião anual da Sociedade Americana de Astronomia (AAS), em Long Beach, Califórnia. Embora ainda não tenha publicado oficialmente nenhum artigo científico sobre a suposta descoberta, tendo até agora redigido quatro papers e os submetido ao The Astrophysical Journal, a equipe de Al Kogut, da Nasa, o principal pesquisador à frente do projeto, foi um dos destaques do encontro científico.

“O Universo nos pregou uma peça”, afirma Kogut, ainda sem compreender a natureza do ruído encontrado. Segundo os brasileiros, os melhores registros do intrigante sinal foram captados pelos três pares de antenas na forma de corneta desenvolvidas para o Arcade pelo Inpe, que operam em
3 e 7 giga--hertz, em baixas frequencias de micro-ondas.

O maior desafio de experimentos destinados a medir a radiação produzida no espaço profundo é obter um registro realmente limpo, livre das interferências que comumente contaminam esse tipo de trabalho. O projeto da Nasa, com a colaboração do Inpe, foi concebido para minimizar ao extremo esse erro sistemático, dizem os pesquisadores.

Para que esse intuito fosse alcançado, os instrumentos do Arcade – sete radiômetros que operam em frequencias de micro-ondas entre
3 e 90 giga-hertz – tiveram de ser resfriados com 1.800 litros de hélio líquido à mesma temperatura da radiação cósmica de fundo, cerca de 2,725 graus Kelvin (mais ou menos -270°C), muito próximo do zero absoluto.

Dessa forma, o calor gerado pelo próprio instrumento de observação foi anulado, evitando um dos mais comuns desvios de medição. Durante as duas horas e meia em que o Arcade fez medições em
7% do céu visível, cruzando para cima e para baixo o plano da Via Láctea (a uma altitude máxima de 37 quilômetros), suas antenas trabalharam mergulhadas nesse gélido ambiente. “O Arcade foi projetado para medir variações de temperaturas de 0,001 K”, comenta Villela. “Nunca um instrumento de rádio teve essa sensibilidade".


O anúncio da descoberta de um possível segundo tipo de radiação de fundo agitou os astrofísicos especializados nesse tema e os estudiosos dos primórdios do Universo. O que poderia originar um sinal de rádio dessa magnitude? A equipe do Arcade evitou fazer especulações sobre a fonte do ruído, mas considera que sua gênese é extragaláctica, de fora da Via Láctea.

Não está descartada a hipótese de que o novo ruído cósmico seja originário das primeiras estrelas que surgiram no Universo, as chamadas estrelas de população III, surgidas algumas centenas de milhões de anos depois do Big Bang, embora não haja evidências significativas nesse sentido. Os pesquisadores acreditam que o sinal não é originário de um ponto específico do espaço, mas deve permear todas as direções do Universo, como ocorre com a radiação cósmica de fundo.

Entretanto, essa hipótese ainda não foi testada. No momento, os maiores esforços dos pesquisadores parecem se concentrar em provar que seus dados são verdadeiros e dar algum sentido a eles. “Vamos conversar com teóricos para ver se algum fenômeno diferente pode ter acontecido no Universo quando o sinal foi detectado”, comenta Wuensche. Ainda não está marcado um novo vôo do Arcade para averiguar se o sinal pode ser medido novamente na mesma região em que foi realizado o experimento de
2006 ou em outra parte do céu.

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